"Beijo a mão que me condena": resistência e embranquecimento histórico do padre José Maurício Nunes Garcia

   “Beijo a mão que me condena”: resistência e embranquecimento histórico do padre José Maurício Nunes Garcia, livro do cantor e pesquisador Pedro Razzante Vaccari, é uma importante contribuição musicológica, promovendo uma reinterpretação da vida e da obra do notável compositor brasileiro. José Maurício foi músico atuante no final do século XVIII e início do XIX. Padre e afrodescendente, sua biografia recebeu “ornamentos” embranquecedores reservados pela historiografia brasileira aos seus heróis e artistas mais representativos, mas cuja ancestralidade não é puramente europeia. Diga-se de passagem, nesse mesmo rol há nomes como Cândido Rondon, Machado de Assis, Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Mário de Andrade, entre outros e outras, cuja inclusão no cânone da história e arte nacionais foi moldada e descolorida pelo viés da teoria do darwinismo social. Vaccari apresenta uma pesquisa abrangente, desnudando as teorias de embranquecimento que distorceram a realidade racial do Brasil, gerando a falaciosa noção de “democracia racial” que apaga as incômodas ações promovidas pela hegemonia branca, desde o “achamento” cabralino, passando pela institucionalização nacionalista de Vargas e cujas consequências seguem sendo debatidas até os dias atuais.